O setor mais eficiente e competitivo da economia brasileira, o agronegócio, mais uma vez compensou as fraquezas da indústria manufatureira e sustentou o comércio exterior do País. Apesar dos preços em queda no mercado internacional, os exportadores de produtos agropecuários – in natura e processados – conseguiram acumular em 2015 um superávit comercial de US$ 75,15 bilhões, 6,22% menor que o do ano anterior, mas suficiente para compensar com folga o déficit contabilizado pelos demais segmentos da produção.
Graças ao amplo excedente comercial do agronegócio, foi possível fechar as contas do comércio geral de mercadorias com um superávit de US$ 19,68 bilhões. Um ano antes o resultado tinha sido um buraco de US$ 4,05 bilhões, segundo o balanço do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior.
Esse ajuste de mais de US$ 15 bilhões na balança comercial, completado em um ano, é atribuível principalmente à redução do total das importações e ao poder de competição do agronegócio.
O valor das importações totais no ano passado, de US$ 171,45 bilhões, foi 24,28% menor que o de 2014. O valor exportado, de US$ 191,13 bilhões, também foi menor, mas a diferença foi bem menos ampla: 14,7%, pela média dos dias úteis. A diminuição das compras de bens estrangeiros é explicável essencialmente pela contração da demanda interna, em cenário de recessão, e pela alta do dólar. Encolheram tanto as compras de produtos de consumo quanto as de máquinas, equipamentos, matérias-primas e bens intermediários destinados à produção.
O outro fator de ajuste, o desempenho do agronegócio, tem sido muito importante para o comércio exterior brasileiro há muitos anos.
Tradicionalmente superavitário, o setor continuou contribuindo poderosamente para a receita em dólares mesmo num cenário
internacional adverso. O volume exportado de vários produtos aumentou em 2015, mas o total faturado diminuiu de US$ 96,75 bilhões para US$ 88,22 bilhões.
A queda de preços foi especialmente sensível nos casos da carne suína (27,8%), do álcool (26,6%) e da soja em grãos (24,2%). A redução média de valor para o conjunto dos produtos ficou pouco acima de 20%.
A redução do crescimento econômico chinês foi um dos fatores determinantes da baixa de cotações das matérias-primas. Ainda assim, a China se manteve como principal destino das exportações do agronegócio brasileiro, absorvendo produtos no valor de US$ 38,06 bilhões, 3,2% menor que o registrado em 2014.
Mesmo com os preços em queda e a diminuição do valor das vendas, a participação do agronegócio no total das exportações brasileiras aumentou de 43% em 2014 para 46,2% em 2015. Isso foi possível simplesmente porque a redução do valor vendido pelos demais setores foi maior.
Essa é mais uma prova do fracasso das políticas de incentivo à indústria desde o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, especialmente a partir do segundo mandato. Baseadas em estímulos e favores a grupos e a setores selecionados, essas políticas facilitaram a vida e sustentaram o lucro de algumas empresas. A ajuda ainda foi reforçada com medidas protecionistas. Mas essas ações permitiram pouco ou nenhum ganho de produtividade e de competitividade.
Neste ano, o agronegócio deve continuar contribuindo para sustentar as exportações e algum nível interno de atividade. A produção de grãos e oleaginosas está estimada em 210,5 milhões de toneladas, com ganho de 1,4% sobre a safra anterior, segundo o levantamento da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab).
Essa estimativa pressupõe a manutenção dos números das lavouras de inverno e, portanto, os dados ainda poderão mudar sensivelmente. Mas as perspectivas, por enquanto, são favoráveis.
Fonte: Estadão