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Para Bunco Wong, presidente da Associação Chinesa de Cafés Especiais (CSCA, na sigla em inglês), a tendência de crescimento econômico do país e as mudanças culturais em curso tornam esse cenário mais palpável do que sugerem as estimativas disponíveis, o que também abriria espaço para um pujante mercado para produtos de qualidade superior.

Mas Wong é, inegavelmente, um otimista. Atualmente, o consumo americano é da ordem de 23,5 milhões de sacas de 60 quilos por ano, e as mais recentes previsões da Organização Internacional do Café (OIC) apontam para um volume de 2,8 milhões de sacas na China em 2020. Em 2012, conforme a entidade, foram cerca de 1,1 milhão de sacas, ou apenas 25 gramas por habitante, mais até do que as importações do país, que alcançaram 1,4 milhão de sacas.

Mesmo bem mais pessimista do que a CSCA, a OIC reconhece que o potencial de crescimento do mercado chinês é imenso, sobretudo quando o exemplo do Japão, onde as barreiras culturais também eram um obstáculo de peso, vem à tona. Inicialmente “desacreditado” como um possível grande consumidor, os japoneses, que hoje importam 7 milhões de sacas, ocupam a quarta posição no ranking do consumo, atrás de EUA, Brasil e Alemanha.

A esperança de Wong está depositada nos jovens, que encontram nas cafeterias que se proliferam na China um novo estilo de vida, mais aberto a costumes ocidentais. “Os jovens de hoje gostam mais de café que os de antigamente”, afirma. E eles representam, segundo o executivo, quase 40% da população.

De acordo com Wong, 97% da população chinesa consome chá e 7% “tem experiência” com café, o que não significa um consumo diário da bebida. Apenas 3% das pessoas compram cafés especiais. Para ele, o grupo dos que têm experiência com café poderá chegar a 20% da população em dez anos.

Segundo o presidente da CSCA, entidade criada justamente com o objetivo de “ensinar” os chineses a apreciar um bom café, investimentos em propaganda, marketing e treinamento tendem a acelerar a tendência de avanço do consumo do produto no país. A associação também tem como motivação valorizar o segmento como uma alternativa de trabalho para parte dos 4 milhões de jovens chineses que saem das universidades do país todos os anos.

Wong afirma que metade dos recém-formados não consegue se encaixar no mercado de trabalho. E que uma cafeteria poderia empregar pelo menos três pessoas e ajudar esses jovens no início da vida profissional. Voluntário na CSCA, Wong atua profissionalmente como “planejador financeiro”, e é desse trabalho que vem a percepção do potencial do segmento como opção de investimento e trabalho.

Há 30 anos, diz, praticamente não se encontrava café em restaurantes no país, somente chá. A demanda começou a crescer com a “ajuda” das regiões turísticas de Hong Kong, onde as primeiras cafeterias foram abertas entre o fim da década de 80 e o início dos anos 90 por gente que viajava a Taiwan e ao Japão e percebia que havia boa oferta de café de qualidade nesses mercados.

Segundo Wong, os chineses gostam do café bem doce e misturado com muito leite, mas já começam a apreciar produtos como o espresso, o cappuccino e o latte. E, em sua visão, esses consumidores estão dispostos a pagar por qualidade – muitos deles já aceitam pagar até US$ 5 por uma xícara de café.

Em Hong Kong, observa, existem formas “inusitadas” e tradicionais de preparar o café. Não é raro encontrar quem filtre o pó em meias de náilon, da mesma forma que é relativamente comum encontrar quem ponha casca de ovo na bebida para deixá-la mais cremosa. Bebidas compostas por chá e café também são encontradas no mercado, por mais estranho que possa parecer aos brasileiros.

Tudo isso está na mira das cafeterias, cujo número cresce a olhos vistos. Wong afirma que há pelo menos uma inauguração por semana e que já existam cerca de 20 mil lojas do gênero na China, de bandeiras como as americanas Starbucks e Pacific Coffee e a UCC, uma das maiores empresas do segmento no Japão.

Wong esteve recentemente no Brasil para conhecer melhor o segmento no país, e gostou do que viu. Não há na China, por exemplo, certificados de pureza para o café industrializado, tampouco padrões para classificar o produto em “tradicional”, “superior” ou “gourmet”, como nota Edgar Koh, diretor comercial da The Fox Bean, empresa responsável por fazer a ponte entre a CSCA e a Associação Brasileira da Indústria de Café (Abic).

O diretor-executivo da Abic, Nathan Herszkowicz, afirma que, apesar do interesse chinês, ainda não há nada concreto sobre uma eventual implantação, na China, de um programa semelhante ao Programa de Qualidade do Café (PQC), desenvolvido pela Abic. Conforme Herszkowicz, os cafés torrados e moídos representam apenas 5% do consumo de café no país asiático, onde predominam as vendas da bebida solúvel.

Agora, a Associação Chinesa de Cafés Especiais, ainda movida por apenas dez integrantes, pretende convidar consultores e agrônomos brasileiros para analisar a produção de café no país asiático, que ainda é familiar e dispõe de pouca tecnologia. No futuro, a ideia é organizar um instituto capaz de desenvolver na China processos como colheita e pós-colheita. Provas de classificação do grão também estão no radar, segundo Koh. Em contrapartida, há empresas chinesas fabricantes de máquinas de café espresso interessadas em acessar o mercado brasileiro.

Fonte: Portal Agro Olhar