Investimentos públicos e privados ao lado da abertura de mercados internacionais para produtos catarinenses mostram que “Santa Catarina está no caminho certo”, de acordo com a avaliação do presidente da Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de Santa Catarina (Faesc), José Zeferino Pedrozo.
Vinculado ao associativismo há mais de 35 anos, Pedrozo tem 71 anos, é graduado em Administração de Empresas. Presidiu o conglomerado Coopercentral Aurora Alimentos, o Sindicato Rural de Joaçaba, a Cooperativa Tritícola Rio do Peixe e o Sindicarnes. É presidente do conselho de administração do Senar em Santa Catarina e vice-presidente de secretaria da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), além de conselheiro de diversas entidades. Foi deputado estadual por duas legislaturas.
No dia 24 de maio, o Governo catarinense e o Ministério da Agricultura anunciaram que o Japão abriu seu mercado à carne suína produzida no Estado, depois de sete anos de negociações. O que permitiu a abertura desse mercado tão importante?
Pedrozo – O fator determinante foi a estrutura de produção e de controle sanitário da cadeia produtiva da carne em Santa Catarina. Temos um status sanitário único porque somos área livre de aftosa sem vacinação. A qualidade da carne catarinense é reconhecida mundialmente. Os produtores rurais, as agroindústrias e o Governo trabalharam em sintonia para chegar a esse resultado.
A abertura do mercado japonês “muda a suinocultura” no País, já que deve alavancar as vendas da carne suína produzida em Santa Catarina?
Pedrozo – Não muda, mas, confirma que estamos no caminho certo, o caminho da qualidade, do rigor sanitário e da qualificação de todos os elos da cadeia produtiva.
Existe uma expectativa de qual será a demanda pela carne suína apenas para os japoneses?
Pedrozo – A capacidade potencial do mercado japonês em comprar carne catarinense é grande, pois trata-se do maior importador de carne suína do mundo com produtos de valor agregado. Acreditamos que o Brasil fornecerá aproximadamente 15% das importações daquele país asiático em 2013 e 2014. O Japão importa anualmente cerca de 800 mil toneladas do produto, representando cerca de US$ 5,5 bilhões. Os principais fornecedores são Estados Unidos e Canadá. Atualmente, o Brasil é o maior exportador de carne de aves in natura congelada para o Japão, com quase 90% de participação.
Quais setores da agricultura e da pecuária catarinense despertam mais otimismo na Faesc em 2013? Por quê?
Pedrozo – É inegável que, nesse momento, o segmento da carne esteja impregnado de otimismo. Além do anúncio oficial da abertura do mercado do Japão para a carne suína catarinense, produtores e empresários estão otimistas para o segundo semestre porque a Ucrânia e Rússia voltarão a comprar carne para suprir o consumo da população no rigoroso inverno europeu. Outro fator importante no mercado é o México. Problemas sanitários naquele país determinaram a redução da produção interna e, por isso, comprará carne de frango catarinense. Os Estados Unidos abriram o mercado no ano passado, mas somente agora fecharam acordo com o Brasil para a emissão do Certificado Sanitário e três plantas catarinenses foram aprovadas para exportar. Há previsão que neste mês de junho estará liberada a venda de carne suína para EUA. Por outro lado, a Coréia do Sul, cuja missão esteve em Santa Catarina para conhecer as indústrias e o sistema produtivo agroindustrial, pode ser um grande comprador a partir do segundo semestre.
Além da abertura do mercado japonês para a carne suína, existem mais motivos para que produtores e empresários estejam otimistas para os meses que se avizinham, tanto na agricultura como na pecuária?
Pedrozo – Atualmente, nenhum produto agrícola catarinense enfrenta crise de preço ou de mercado. A rentabilidade de todos os produtos agrícolas continua alta, inclusive a maçã. As safras de milho, soja e fumo foram boas. Os preços da soja e do milho, que estiveram elevados em 2012, decaíram um pouco em face do aumento da oferta, mas a remuneração continua boa. O leite continua uma grande opção. O preço ao produtor está ótimo: mais de 1 real ao litro.
O que o Sr., como presidente da Faesc, acha da polêmica aprovação da MP dos Portos? Existe algum ponto que o desagrada enquanto dirigente da Faesc? E quais os pontos positivos da MP?
Pedrozo – A medida provisória que trata da reforma e da abertura do sistema portuário brasileiro é fundamental para o nosso futuro, porque a situação do Brasil é dramática. Num ranking sobre qualidade dos portos em 142 países, estamos situados na 130ª posição, à frente apenas do Timor Leste, do Haiti, da Venezuela, do Tajiquistão e de mais alguns países de economia modesta. Desde a abertura dos nossos portos ao comércio internacional em 1808, o Brasil ainda não foi capaz de construir estruturas portuárias adequadas. A operação portuária no Brasil está muito distante das referências mundiais de eficiência e produtividade. A MP dos Portos reduzirá a ineficiência da Logística portuária principalmente pela maior participação da iniciativa privada nas operações. O elemento fundamental é a quebra da dependência das empresas aos portos públicos. Portanto, aumentar a oferta nos terminais privados é estimular a concorrência.
É possível modernizar os portos brasileiros e, por consequência, diminuir os custos da logística nacional, apenas com os investimentos da MP dos Portos? Ou para isso são necessárias melhorias na infraestrutura e uma desburocratização do Brasil enquanto instituição?
Pedrozo – Os terminais privados trabalham com capacidade ociosa em alguns meses do ano; os terminais públicos trabalham além da capacidade em todo o ano, justamente pela histórica falta de investimentos, pelo excesso de burocracia e ineficiências gerenciais. A MP é o início da desconcentração portuária. Pode-se formar uma rede de portos interconectados e, ao mesmo tempo, concorrentes entre si, o que significa um maior aproveitamento do potencial brasileiro nessa área e uma formação de corredores, logísticos globais a partir do interior do País.
Qual a importância da Ferrovia da Integração para o oeste e o leste catarinense?
Pedrozo – A economia catarinense precisa de duas ferrovias. A primeira é a norte-sul, ligando Chapecó ao centro-oeste do País. Ela é essencial para transportar as 2,5 milhões de toneladas de milho e soja que Santa Catarina importa de Mato Grosso do Sul e Mato Grosso. A proposta do Governo é uma ferrovia que ligue Panorama (SP) ao Porto de Rio Grande (RS) passando por Chapecó (SC). A segunda é a Ferrovia da Integração, também conhecida como Ferrovia do Frango, ligando o Oeste de Santa Catarina ao Porto de Itajaí (SC). Essas duas obras são essenciais para a competitividade mundial das agroindústrias.
Fonte: MB Comunicação