Em trabalho realizado para o III Congresso de Bioética e Bem-estar animal, uma pauta muito importante foi posta em análise, a liberdade de expressar o comportamento natural da espécie animal. Este trabalho questiona a humanização dos animais de companhia, a partir das 5 liberdades que são os pilares do Bem-estar animal. A veterinária Ana Mitidieiro compartilhou com a CIDASC a necessidade de se falar mais sobre este assunto.
Abaixo, o texto completo sobre a questão, de autoria de Carla Forte Maiolino Molento da Universidade Federal do Paraná.
Repensando as cinco liberdades
As Cinco Liberdades compõem um instrumento reconhecido para o diagnóstico de bem- estar animal. As ideias centrais foram lançadas pelo Relatório Brambell (1965), e evoluíram para se expressas como (1) Liberdade de sede, fome e má-nutrição, (2) Liberdade de dor, ferimentos e doença, (3) Liberdade de desconforto, (4) Liberdade para expressar comportamento natural e (5) Liberdade de medo e distresse, pelo Conselho de Bem-Estar de Animais de Produção (FAWC, 1993).
Através do ensino de bem-estar animal, fica evidente o valor prático do conceito das Cinco Liberdades para o diagnóstico de bem-estar animal em campo, quando análises laboratoriais e observações comportamentais organizadas e prolongadas não se encontram prontamente disponíveis. Observa-se na literatura uma variação nas palavras usadas para descrever as Cinco Liberdades, tanto em publicações em inglês quanto em português. Este trabalho propõe que as Cinco Liberdades sejam expressas como: (1) Liberdade Nutricional, (2 ) Liberdade Sanitária, (3) Liberdade Ambiental, (4) Liberdade Comportamental e (5) Liberdade Psicológica. A Liberdade Nutricional inclui disponibilidade de alimentos e água em quantidade e qualidade adequadas; os conceitos de fome e sede, entretanto, seriam mais relevantes à Liberdade Psicológica.
A Liberdade Sanitária inclui ausência de problemas de saúde tais como doença e ferimentos. A Liberdade Ambiental inclui a adequ ação das instalações nas quais os animais são mantidos, tais como adequação das superfícies de contato e espaço disponível. A Liberdade Comportamental refere-se à comparação entre o comportamento natural em ambiente similar àquele em que a espécie evoluiu e o comportamento possível sob as condições em análise. A Liberdade Psicológica representa um aumento significativo da amplitude da Liberdade de medo e distresse; isto apresenta a desvantagem de se tornar mais subjetivo e de mais difícil avaliação. Entretanto, alguns sentimentos negativos, tais como frustração e tédio, são extremamente comuns em animais sob manejo intensivo e deveriam ser considerados quando se diagnostica bem-estar através das Cinco Liberdades.
Se considerada desta forma ampla, a Liberdade Psicológica poderia ser analisada com base na avaliação das outras quatro Liberdades, em termos d e probabilidade de predominância de sentimentos positivos ou negativos.
Existe ainda uma vantagem didática no formato proposto para as Cinco Liberdades: elas se tornam d e mais fácil memorização. Em resumo, parece justificável se considerar o desenvolvimento da expressão das Cinco Liberdades como (1) Liberdade Nutricional, (2) Liberdade Sanitária, (3) Liberdade Ambiental, (4) Liberdade Comportamental e (5) Liberdade Psicológica.
Fonte: Ana Mitidieiro