Uma técnica nova, a microbiolização, reduz o tempo de produção de mudas de banana em até 20 dias, dependendo das condições e da variedade utilizada. Ela tem dado bons resultados quando aliada ao mais recomendado método de multiplicação de mudas de bananeira – a propagação vegetativa in vitro, também conhecida como micropropagação, atualmente, a maneira mais segura e rápida de se obter mudas de qualidade e livres de doenças importantes.
O pesquisador Harllen Silva, da Embrapa Mandioca e Fruticultura (BA), explica que a micropropagação pode ser resumida em duas fases: o enraizamento in vitro e a aclimatização, com as mudas já em casa de vegetação. “O que fizemos foi introduzir bactérias nas duas fases para tentar reduzir o tempo de enraizamento e de aclimatização”, diz o especialista. As plantas oferecem os nutrientes e o habitat para as bactérias, as quais promovem o crescimento e a sanidade das plantas. “É uma interação benéfica. Na natureza é assim. Com esse processo chamado de microbiolização, conseguimos reduzir em dez dias o tempo de enraizamento, que geralmente é de 30 dias, e reduzimos em 75% a quantidade do regulador de crescimento artificial, que pode ser o ácido naftalenoacético ou ácido indolacético”, destaca.
Ao introduzir a técnica da microbiolização nas mudas de bananeira micropropagadas somente na fase de enraizamento, houve uma redução de 10% no tempo de produção de mudas. Quando a técnica foi aplicada nas fases de enraizamento e aclimatização, a redução no tempo foi de 22%. O desenvolvimento convencional leva geralmente 90 dias, portanto a microbiolização leva até 20 dias a menos.
Decorridos 70 dias do experimento (20 de enraizamento e 50 de aclimatização), as mudas provenientes de explantes − partes de tecido ou órgão vegetal utilizado para iniciar uma cultura in vitro − tratadas na fase de enraizamento e durante a aclimatização foram avaliadas de acordo com os parâmetros altura, peso fresco e peso seco da parte aérea, número de folhas e peso do sistema radicular. Os resultados foram equivalentes aos encontrados no método de micropropagação convencional, só que avaliado aos 90 dias. Desse modo, tanto a empresa pode produzir maior número de mudas por ano como reduzir o preço no mercado, atraindo maior número de compradores. “Como um ciclo é formado por 90 dias, ao se reduzir 20 dias, ganha-se um ciclo a mais de produção durante um ano”, esclarece Harllen.
Os ensaios foram realizados nos laboratórios da Campo Biotecnologia Vegetal, empresa parceira da Embrapa, com as variedades de banana Maçã, Prata Anã e Prata Comum, as mais vendidas pela empresa, e os tratamentos foram realizados conforme rotina de produção da biofábrica. Nos ensaios mais recentes, Harllen conseguiu definir a frequência de aplicações de bactérias na fase de aclimatização, a mais interessante para a biofábrica. “Com os resultados, concluímos que aplicações a cada três semanas garantem a redução em dez dias na fase de aclimatização”, afirma o pesquisador.
Apesar da grande redução no uso dos reguladores artificiais de crescimento, a inclusão do processo criou uma etapa a mais na rotina da biofábrica. “Foi tudo feito de modo artesanal. Promovíamos o crescimento da bactéria, fazíamos a suspensão, calibrávamos e colocávamos o explante. Isso levava três dias. Então, precisamos melhorar esse processo para que se torne interessante para as biofábricas”, ressalta o pesquisador.
Microbiota
Outra vantagem do novo processo é que as mudas contêm uma microbiota, conjunto dos microrganismos que se encontram no solo, benéfica associada às raízes. Essa microbiota desempenha papel fundamental no crescimento da planta e na adaptação a condições de estresse, inexistentes em condições de cultura de tecido, o que aumenta a adaptação às condições de campo. “Essas mudas têm um valor agregado. São mudas microbiolizadas, que vão com uma carga microbiológica para o campo, ao contrário das mudas in vitro, que vão praticamente esterilizadas para o campo”, assegura.
Além de Harllen Silva, a pesquisa teve a participação de Elizabeth Maria Ramos, Rosiane Silva Vieira, Kaliane Sírio Araújo e Karoline Viana Cardoso, à época estudantes de mestrado em Microbiologia Agrícola da Universidade Federal do Recôncavo da Bahia (Ufrb). Das 200 bactérias isoladas do banco ativo de germoplasma de bactérias da Embrapa, Rosiane trabalhou com 12 e depois com as dez que proporcionaram os melhores resultados. “Avaliamos as dez bactérias mais eficazes no tratamento dos explantes, verificando o enraizamento destes no período de 15 dias, de acordo com a concentração de regulador de crescimento no meio. Em seguida, outro teste foi feito, dessa vez para saber o tempo necessário para a colonização das bactérias: um, três e cinco minutos. O maior desafio foi identificar as bactérias”, recorda. “Com essa técnica, as plantas ficam protegidas e mais resistentes. Além disso, todo o processo é ecologicamente correto”, comemora Rosiane.
Expectativa
Geraldo Fernandes, gerente da biofábrica Campo Biotecnologia, que cedeu espaço, material e mão de obra para os experimentos, ficou satisfeito com os resultados. “Houve uma redução grande de custos. Os hormônios enraizadores usados na propagação in vitro são caros. Estimo a redução em 10% do custo, pois diminuímos o uso de produtos químicos e o custo com mão de obra. Além de tudo, a planta pareceu ter um desempenho melhor. As raízes ficaram mais saudáveis, o enraizamento foi melhor. Agora, é esperar que exista, em breve, um produto para uso comercial,” comenta.
Só por fazer parte da parceria, o gerente da biofábrica já adotou uma postura mais científica em relação à sua produção. “Sempre que víamos bactérias nos vidros, jogávamos fora porque achávamos que podia prejudicar a muda. Mas hoje analisamos melhor e já não descartamos todas. Até então, jamais achamos que elas poderiam trabalhar a nosso favor”, revela Fernandes.
Se para a biofábrica a expectativa de lucro é real, para o produtor também existem vantagens. As mudas já vão ao campo mais fortalecidas, de acordo com o gerente. “Quando as raízes se desenvolvem bem, a planta aproveita melhor os nutrientes e, consequentemente, o bananal vai ser mais produtivo, com plantas e frutos uniformes, e mais rentável. Com plantas mais saudáveis, diminui-se a aplicação de produtos químicos e também o impacto ambiental”, analisa.
Panorama da cultura
Embora o País não seja um grande exportador – apenas 3% da produção é destinada ao mercado externo – a bananicultura tem grande importância no agronegócio brasileiro. Com 6,9 milhões de toneladas anuais, o País é o quinto maior produtor mundial de banana e a agricultura familiar é responsável pela maior parte da produção, segundo os dados mais recentes do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (Ibge, 2012) e da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO, 2014).
Nos importantes polos de produção, a cultura se caracteriza pelo uso de tecnologias de ponta, tanto na produção quanto no processamento, o que resulta em produtividades elevadas e na melhor qualidade dos frutos ofertados ao mercado consumidor.
Patente
A pesquisa desenvolvida pela Embrapa Mandioca e Fruticultura gerou, em outubro de 2013, o requerimento da patente de invenção, de título “Produto e processo de produção de mudas por microbiolização”, ao Serviço Nacional de Proteção de Cultivares (Snpc) e ao Instituto Nacional de Propriedade Industrial (Inpi). A patente tem validade de 20 anos e as duas instituições têm sete anos para dar o resultado da análise.
Segundo Harllen, a próxima etapa é, depois de treinamento ou parceria com empresa privada ou pública, liderar projeto de desenvolvimento de um produto formulado. “O produto final tem que ser algo simples. Grosso modo, um pó ou um líquido que se coloque na água, como um adubo, que as biofábricas possam incorporar à sua rotina”, idealiza.