O Jovem rural André Sebold, 26 anos, de Águas Mornas, mora na propriedade de 22,5 hectares com 14 deles em produção, num trabalho familiar que envolve seus pais, um tio, o irmão e a namorada, ele e namorada. A família produz couve-flor, tomate cereja, brócolis, acelga, tomate grado, ervilha, pepino, pepino japonês, alface americana, salsa, aipim e pimenta – produtos comercializados no Ceasa. No dia cinco de novembro André e outros 19 jovens de cinco municípios da Grande Florianópolis participaram da solenidade de formatura do Curso de Liderança, Gestão e Empreendedorismo, oferecido pelo Programa SC Rural e ministrado por profissionais da Epagri, Cidasc, e Secretaria da Agricultura e Secretaria do Turismo. Com dez meses de duração e aulas presenciais durante uma semana por mês, o curso acontece nos 12 centros de treinamentos da Epagri em todo o estado e contabiliza a formação de 939 jovens com idade de 18 a 29 anos, entre os anos de 2012 e 2015.
“Agricultura não é só plantar”
“Resolvi fazer o curso depois de convite da Epagri, da extensionista Cassandra. E o que me chamou a atenção foram conceitos de empreendedorismo e novas técnicas na agricultura, para deixar o agricultor um empreendedor. Eu sempre tive o ponto de vista que a agricultura não é só plantar e colher; para mim ela tem a mesma função que uma indústria: Você compra a matéria prima que é a semente, você transforma ela numa muda e essa muda é transformada no produto final que é vendido ao mercado. Ela passa por todas as fases por que passa uma indústria”, conta André. Ele frisa que “muita gente tem a idéia de que quem mora no interior e trabalha com frutas e verduras não precisa de estudo. Mas no meu ponto de vista é ao contrário: Precisa de muito estudo, tem que ter capacidade técnica, financeira e em outras áreas… tem que estar muito bem estudado e assessorado. Eu sempre estudei, tive incentivo de minha mãe que fez Contabilidade, meu pai tem só o ensino fundamental, e eu curso Gestão financeira, que estou concluindo, e estou na primeira fase da faculdade de Direito, mas não pretendo exercer a profissão de advogado, é para ter mais capacidade intelectual”.
Oportunidades trazem jovem de volta ao campo
Para o agora jovem empreendedor, “quanto mais domínio de áreas você tiver, menos refém você é de vendedores. Hoje acontece que no interior você quer produzir algo e vai numa agropecuária eles querem te vender de tudo. E muito que se vende você não precisa. Por exemplo hoje se vende muitas fórmulas de adubo, mas não é aquele o adubo que a planta precisa. O agricultor tem que ter conhecimento do que a planta precisa para poder comprar, não comprar o que ele não precisa e pagar muito caro por isso”. Na avaliação de André, o curso de empreendedorismo é muito interessante, pois além de fixar o jovem que já está no meio rural e o fazer ver a identidade de jovem, para ele se ver como ele é importante e ser respeitado na cidade, “o curso traz muito jovens egressos do meio urbano, está trazendo esses jovens de volta por meio de oportunidades. No final do curso tem um subsídio do Estado e do Banco Mundial através de um projeto que elaboramos e que gente chama de projeto de vida. Esse subsídio se você trabalhar sozinho é de 10 mil reais, se for em grupo de três ou mais recebe 15 mil, e se for para mais de dez pessoas pode elaborar um projeto estruturante e aí você arranja um subsídio de até 400 mil reais. E isso não precisa devolver, só tem que dar uma contrapartida de 20% a 50% desse valor”.
“O conhecimento que ganhamos aqui”
Com seu projeto André pretende construir na propriedade uma packing house, ou casa de embalagem, para comercializar alimentos (olerícolas) minimamente processados. E sabe explicar os motivos de sua escolha : “O agricultor hoje produz, mas não faz a higienização e a embalagem adequada. Já fiz cálculos com o técnico de engenharia de alimentos da Epagri: Para um investimento de 80 mil reais o retorno do investimento vai acontecer em dois anos, incluindo os 20% da minha contrapartida. Como meu projeto é individual vou receber subsídio de 10 mil reais. Meu projeto ainda não está totalmente concluído, ainda é preciso fazer algumas adequações, como instalar baú refrigerado no caminhão de transporte”. Entusiasmado, André vê outros benefícios em ter feito o Curso de Liderança, Gestão e Empreendedorismo: “O mais importante para mim foi o conhecimento que nós ganhamos aqui, para ter liberdade de conhecimento. Para não ser refém de alguém que vai à sua propriedade dizer que você tem que comprar tanto de adubo, esse ou aquele agrotóxico… você tem que ter conhecimento para dizer não, você decidir o que você vai fazer, isso para mim é o principal. Na minha região há um número bem expressivo de jovens retornando ao meio rural, e muito mais que pensam em retornar”.
“Importar verduras não tem como”
Sobre o dilema entre viver na cidade ou na área rural, mesmo nunca tendo trabalhado fora da propriedade familiar, André tem bons argumentos para defender sua opinião: “O jovem que sai, ele sai por uma questão. Por exemplo: O tempo chuvoso que temos hoje é péssimo para a agricultura, você tem rendimentos horríveis, negativos. Acontece aí o jovem pensar: Vou trabalhar na cidade e vou ter renda fixa. Só que ele calcula a renda fixa, ele não conta as despesas fixas que vai ter, vai ter aluguel, a alimentação sai muito mais caro, não vai no quintal colher suas verduras, suas frutas, não tem um rebanho para abater quando é necessário, é tudo comprado e isso torna o custo de vida muito alto. No interior quando você mora na propriedade tem um custo de vida muito baixo, compra apenas o essencial, carne você tem – é comum o agricultor criar animais para ter carne para sua subsistência, é muito comum. Com isso voltam muitos jovens. Até o governo federal já viu isso e criou campanhas como o Mais Alimentos, para incentivar a produção e manter quem está no campo, porque senão vamos ter que importar alimentos. Importar soja ou milho é muito fácil, mas importar verduras não tem como. São dias de viagem e a verdura não vai chegar em bom estado de conservação”, assinala.
Produtos com rastreabilidade
Em seus planos para o futuro André cita a ampliação da packing house, “vou me empenhar muito nisso. E também fazer um trabalho social com agricultores que têm dificuldades, por falta de instrução, escolaridade baixa, sempre tem exclusão social. Assim como tem agricultor com receita de 10 mil reais limpo por mês, tem agricultor que não chega a 500 reais por mês. Com a packing house calculei que vou ter um acréscimo de valor do produto em torno de 30%, você ganha mais valor. Você tendo no mercado um produto com rastreabilidade, em que o consumidor veja que pode consumir sem problemas, porque sabe quem produziu, o que foi usado para produzir esse produto, ele tem a segurança, ele paga mais por isso. Para o jovem que pensa em fazer esse curso do SC Rural eu diria que no mínimo ele dê chance à dúvida e vir participar, conversar com a gente da Epagri municipal e pedir se pode ir um dia acompanhar, ver como é”.
“Poderia ser uma política nacional”
A aceitação do curso pelos jovens, segundo André, é outro ponto que merece destaque: “Do nosso grupo que começou apenas dois jovens desistiram, um por doença e outro por dificuldades financeiras, os demais não desistiram. Porque passar cinco dias fora de casa dá uma travada financeiramente na propriedade. Só que se você olhar matematicamente, com o valor mínimo do projeto, os 10 mil reais que você pode pedir, é muito viável! Querer fazer algo e não ter dinheiro é muito ruim. E você ter a oportunidade de aprender e ainda ganhar por isso… é excepcional! É uma política pública do estado que eu vejo que se destaca em todo o Brasil. Não temos outros estados com uma política pública tão grande de incentivo ao jovem. E ela não abrange regiões, abrange o estado. Poderia, a meu ver, ser colocada como política nacional, poderiam ver o exemplo no estado. É muito sucesso. Temos projetos onde a busca não é o faturamento gigantesco, e sim a busca da qualidade de vida. São dois tipos, no meu caso dou prioridade aos dois, sou híbrido, quero o faturamento, mas com qualidade de vida. Nasci e cresci com as dificuldades dos meus pais. Meus pais casaram, foram trabalhar na lavoura com duas enxadas, duas foices e um machado. Hoje meus pais têm três propriedades, caminhão, tratores e toda a infra-estrutura necessária. Meu pai sempre colocou esse desafio a nós: “Quero ver vocês fazer tanto quanto seus pais. Ou mais”.
Fonte: Ascom Programa SC Rural