A presença de insetos nas lavouras é comum em qualquer sistema de produção, mas ainda é pequeno o número de insetos que causam danos e podem ser considerados pragas no trigo. As principais pragas nas culturas de inverno são pulgões, lagartas e corós. O primeiro cuidado é o tratamento de sementes com inseticidas que afastam as pragas de solo. Os danos causados por insetos na lavoura podem ser evitados com o controle biológico, usando técnicas de manejo que preservam os predadores naturais, como sapos, vespas, quero-queros e tatus. O monitoramento das áreas de cultivo com a rotação de culturas também ajuda no controle das pragas. Em caso de alta infestação de insetos, para o controle químico devem ser usados apenas produtos registrados e de baixo efeito tóxico.

Imagem ilustrativa

Pulgões

Várias espécies de afídeos ou pulgões ocorrem na cultura de trigo. As mais comuns são o pulgão-verde-dos-cereais, o pulgão-do-colmo-do-trigo ou pulgão-da-aveia,  o pulgão-da-folha-do-trigo e o pulgão-da-espiga-do-trigo. Tanto pulgões jovens (ninfas) como adultos alimentam-se da seiva do trigo desde a emergência até que os grãos estejam completamente formados (grão em massa). Os danos  podem ocorrer através da sucção da seiva e de suas conseqüências no rendimento de grãos. Contudo, o principal dano é a transmissão de vírus fitopatogênicos (BYDV e CYDV). O manejo integrado conta com o controle biológico, resultado da introdução de espécies de parasitóides no ambiente.  Em situações emergenciais os pulgões podem ser controlados com inseticidas diluídos em água e pulverizados da parte aérea das plantas.

Corós

Corós constituem problema expressivo em trigo, no extremo sul do País. Os corós são larvas de solo cujos adultos são besouros. Estas larvas apresentam o corpo em forma de “C”, de cor esbranquiçada. As espécies associadas ao trigo são Diloboderus abderus  e Phyllophaga triticophaga. As larvas consomem sementes, raízes e plantas que puxam para dentro do solo. Um único coró é capaz de consumir em torno de duas plântulas de trigo em uma semana. A ocorrência de corós varia de um ano para outro, dependendo da espécie de coró e da mortalidade natural. Tanto o coró-das-pastagens como o coró-do-trigo podem causar danos ao trigo a partir de 5 corós/m2. Nessa situação, o tratamento de sementes com inseticidas tem se mostrado eficiente no controle.

Lagartas desfolhadoras

A lagarta-militar ocorre no início do desenvolvimento da cultura, desde a emergência até o afilhamento comendo as folhas. É mais comum nas regiões de inverno seco e pouco rigoroso.

As espécies de lagartas-do-trigo podem ocorrer na lavoura a partir do espigamento até a fase de maturação do trigo, sendo mais comuns a partir de meados de outubro. Em locais com vegetação mais densa, ou com plantas acamadas, pode existir maior concentração de lagartas-do-trigo, que além de comerem as folhas atacam as espigas, onde consomem aristas e espiguetas, ou cortam na base, derrubando-as ao solo.

As lagartas-do-trigo e a lagarta-militar alimentam-se mais ativamente à noite e em dias nublados. Possuem número apreciável de inimigos naturais, por isso o controle químico deve ser feito apenas quando necessário e de forma criteriosa. Sugere-se como parâmetro que a aplicação de inseticidas seja feita quando forem encontradas, em média,  10 lagartas-do-trigo (> 2,0 cm) /m 2.

Percevejos

As espécies mais comumente encontradas em trigo são os percevejos-barriga-verde, o percevejo-verde, percevejo-do-trigo, o percevejo-raspador, percevejo-do-capim ou perequito.

Espécies do percevejo-barriga-verde que historicamente eram citadas apenas em soja, recentemente passaram a ocorrer em trigo, como pragas de início de ciclo. Ocorrem problemas no afilhamento, no desenvolvimento das plantas e redução no rendimento de grãos.

O percevejo-verde ataca o trigo no emborrachamento, causando morte da espiga ou de parte dela (espiguetas). As espigas que emergem apresentam-se deformadas, secas e brancas, com sintomas semelhantes aos de dano por geadas.

O percevejo-do-trigo é mais comum nas regiões em que o clima caracteriza-se por pouca chuva e temperatura relativamente maior, onde também ataca a cultura de arroz.

O percevejo-raspador tem sido encontrado em trigo e em diversas outras gramíneas. O ataque resulta em sintomas típicos de “raspagens”. As manchas esbranquiçadas, que podem evoluir para a morte do tecido, em folhas, colmos e espigas. A população cresce a partir do mês de setembro, quando, normalmente, o trigo está emborrachado ou em espigamento. Altas populações na fase de enchimento dos grãos, como 10 percevejos por planta podem comprometer a folha bandeira e provocar redução no rendimento de grãos.

Artigo escrito por Paulo Roberto Valle da Silva Pereira – pesquisador de Entomologia da Embrapa Trigo.

Fonte: Portal do Agronegócio.