Quando o assunto é melhoramento genético, o produtor logo pensa naquele touro selecionado cuidadosamente a partir de um catálogo que oferece para ele o melhor sêmen daquilo que espera na propriedade. Mas, algo que pouco passa pela cabeça do pecuarista é a importância que deve ser dada também à genética da fêmea que será inseminada. Apesar disso, o tema é alvo de diversos criadores de todo o país, a partir das avaliações genômicas.
A tecnologia, ainda vista como novidade no Brasil, foi apresentada pelo zootecnista Cleocy Fam de Mendonça Júnior para produtores durante o Show Rural Coopavel, que aconteceu no início de fevereiro, em Cascavel, PR. A avaliação genômica é feita de forma simples, utilizando apenas algumas características do DNA do animal, que podem ser obtidas logo no primeiro dia de vida. A partir delas, o produtor já tem conhecimento se a novilha vai produzir bastante leite, entre outros requisitos importantes, que o produtor só teria conhecimento, no mínimo, três anos após o nascimento deste animal.
O profissional explica que é importante que o pecuarista tenha em mente que a genética sozinha não resolve todos os problemas da fazenda. “Tudo precisa funcionar junto. Além da genética, o animal precisa ainda de uma boa nutrição, reprodução, saúde, entre outros requisitos”, diz. Segundo o zootecnista, é preciso ter em mente que a genética contribui com a evolução da fazenda, mas é preciso que tudo esteja funcionando em sincronia.
Mendonça explica que, quando se fala em genética, para ter um bom melhoramento é preciso fazer, cuidadosamente, a seleção dos genes. “É preciso selecionar os animais com genoma superior e com as características desejadas no rebanho”, diz. De acordo com Mendonça, o pecuarista avalia muito bem quando vai selecionar a genética utilizada para o touro. “Não escolhemos porque ele é mais bonito ou mais feio, escolhemos com base na avaliação genética dele”, comenta. Mas, quando o assunto é a fêmea, a seleção ainda é ínfima. “No máximo, faz a seleção por fenótipo”, conta. O profissional ainda diz que o produtor acredita na seleção genética quando se fala do touro, mas, quando o assunto é a fêmea, ele fica na dúvida se funciona mesmo.
Para o zootecnista, o pecuarista precisa pensar o que ele pode fazer para melhorar as fêmeas geneticamente. “Quando olhamos a genética tanto do touro quanto da fêmea, olhamos qual a informação das filhas. São elas que têm o maior peso da informação, o que aumenta a nossa confiança quanto à genética”, comenta. E é isso que a avaliação genômica faz, afirma o profissional. “Geralmente, para termos a informação precisa de um touro, levamos mais ou menos de cinco a seis anos. Já com a avaliação genômica, que é feita a partir de um processo estatístico, que correlaciona provas de touros com marcadores moleculares, até mesmo com um dia de vida, com o pelo do animal, eu consigo fazer uma avaliação tanto do macho quanto da fêmea”, afirma. Mendonça conta que, a partir desta avaliação, o produtor tem as mesmas informações de touros e fêmeas. “A interpretação é a mesma para os dois”, diz.
O zootecnista diz ainda que todas as informações sobre touros os pecuaristas têm à disposição nos catálogos. “O que precisamos é conhecer as nossas fêmeas e conseguir fazer a melhor seleção para ter os melhores animais”, expõe. Com esta avaliação, o produtor tem índices de volume de leite, gordura, proteína do leite, características de saúde, parentesco, entre outros dados que fazem a diferença na produção.
Confiança
Mendonça diz que a partir dos dados que são apresentados com a avaliação genômica a confiança do produtor aumenta. “O que buscamos com a genética são ferramentas para errarmos menos. Quando aumentamos a confiança, isso já acontece”, diz. Com um exemplo, o zootecnista mostra como a confiança do produtor aumenta com a avaliação genômica. Ele mostra que para leite, por exemplo, com uma fêmea de avaliação genômica, a confiança é de 74%. “Era como se essa vaca já tivesse 43 filhas produzindo para eu tirar o genótipo dela”, explica. O mesmo caso acontece com outros fatores, como a vida produtiva. “A confiança vai para 69%. É como se esse animal já tivesse 87 filhas produzindo”, diz.
A partir dos dados apresentados pela avaliação genômica, o produtor pode tomar as decisões mais cedo. “Antes, eu selecionava os pais para inseminar. Escolhia a vaca pelo que eu achava que era melhor e somente depois de 36 meses que eu teria a certeza que esse animal seria bom ou não”, conta. Ele comenta que hoje é possível fazer isso com uma bezerra de um dia. “Eu reduzo, no mínimo, três anos para tomar a decisão correta e ter as informações de maior confiança, que melhorará a genética da minha fazenda”, afirma.
Utilização
Mendonça comenta que, mostrando os dados para os produtores, muitos questionam: é utilizado? Funciona? Ele garante que sim. Até janeiro de 2017 aproximadamente 1,7 milhão de animais já eram genotipados. “As fazendas de leite estão utilizando muito estas informações para aumentar e melhorar a produção”, diz. “São fazendas eficientes, que estão usando as informações para tomar a melhor decisão e ter o melhoramento genético”, completa.
Ele diz que o objetivo do melhoramento genético é o produtor ter a melhor eficiência no negócio, para que as vacas produzam mais, com um custo menor, e a partir disso, ter mais rentabilidade.
O zootecnista explica que este tipo de tecnologia surgiu por conta dos touros. “Mas se eu tenho bons touros e seleciono boas fêmeas também, eu acelero o processo genético. Eu duplico a velocidade do melhoramento, e é isso que queremos com a genômica”, conta. Ele ainda afirma que atualmente as fêmeas começam a ganhar maior atenção no quesito genética. “A tecnologia está sendo prioritariamente utilizada para selecionar fêmeas. Dos 1,7 milhão de animais, 85% são fêmeas”, expõe. Além disso, o mercado aceita muito bem os animais genotipados. “65% da venda de touros nos EUA e no Canadá são exclusivamente genômicos”, informa.
A utilização do melhoramento genético muda, e muito, na produção e lucro da propriedade. Mendonça mostra que a mudança de 19 para 30% na taxa de prenhes em uma propriedade muda, mais ou menos, de R$ 800 a R$ 900 a mais na lucratividade por vaca.
Na Prática
A utilização da avaliação genômica no Brasil ainda é novidade para muitos pecuaristas. Porém, Mendonça afirma que a tecnologia já é utilizada em praticamente todo o país. O valor aproximado para realizar a avaliação é de R$ 190 por animal. “Mas é importante que o produtor crie estratégias. Não adianta fazer isso no rebanho inteiro”, afirma.
Cada propriedade tem as próprias estratégias de como atuar, porém o profissional dá algumas dicas sobre o que pode ser feito. “O que buscamos com isso é fazer com que esta geração seja melhor do que a anterior. Queremos ter animais superiores”, diz. Mendonça explica que são três passos para ter uma boa genética: obter a informação, ranquear os animais e tomar a decisão. “A avaliação genômica atua na obtenção da informação”, conta. Ele explica que a tecnologia mostra para o produtor quem é o melhor e quem é o pior animal. “Depois de saber disso eu ranqueio eles e tomo a decisão de como farei a inseminação”, afirma. Porém, alerta que de nada adianta fazer a avaliação na propriedade e não tomar a decisão. “Isso é jogar dinheiro fora”.
Mendonça destaca que é importante ter uma boa genética na fazenda para o produtor ter maior lucratividade. Além do mais, com o passar do tempo é preciso evoluir junto com tudo ao redor. “É preciso ter foco na seleção dos animais. O importante é dar atenção também à genética da fêmea, que faz a diferença na propriedade, já que o ganho pode ser até quatro vezes maior”, sugere.
Fonte: O Presente Rural
Mais informações à imprensa:
Assessoria de Comunicação – Cidasc
Fone: (48) 3665 7037
ascom@cidasc.sc.gov.br
www.cidasc.sc.gov.br
www.facebook.com/cidasc.ascom