As tarifas impostas pela China sobre os produtos importados dos Estados Unidos podem favorecer as vendas da soja brasileira para o gigante asiático, caso sejam de fato aplicadas, acreditam especialistas em comércio internacional. Este seria, no entanto, um benefício pontual frente aos prováveis efeitos negativos que a guerra comercial poderia trazer ao Brasil, assinalam.

Foto: Fabiane Santos

Nesta quarta-feira, 4, o clima de tensão aumentou entre as duas maiores economias do mundo, depois que a China anunciou que vai taxar em 25% as importações dos EUA sobre produtos como soja, aviões, carros, carne, uísque e produtos químicos. A medida é uma resposta direta aos planos do governo Trump de sobretaxar cerca de 1300 produtos chineses.

“Dependendo de como a tensão entre China e EUA se desdobrar, é possível que as tarifas, se aplicadas, abram espaço para as exportações da soja brasileira no mercado chinês”, afirma o diretor da escola de investimentos internacionais do Grupo L&S, Liberta Global, Leandro Ruschel.

A China é o principal destino das exportações de soja do Brasil, responsável por comprar quase 80% da soja brasileira (exceto óleo de soja) no primeiro trimestre deste ano, de acordo com dados do Ministério da Indústria, Comércio Exterior e Serviços- Mdic. A soja é o segundo principal produto exportado pelo Brasil, atrás de petróleo, e responde por 9,42% das exportações brasileiras.

O Brasil foi o principal exportador de soja para a China em 2017, seguido dos EUA. O país embarcou 50,9 milhões de toneladas da commodity ao país asiático no ano passado, um aumento de 33% em relação ao ano anterior, enquanto os Estados Unidos forneceram 32,8 milhões de toneladas, mostram dados do Departamento de Alfândega da China.

           Arte: Ascom/ Cidasc

Segundo um relatório do banco Goldman Sachs, a imposição de tarifas pela China cria um risco de queda das exportações de soja dos EUA neste ano. Isso poderia ocorrer pelo consumo de estoques chineses ou pela substituição parcial dos produtos. Conforme a instituição, “embora a China ainda necessite importar soja dos EUA e de outros países, tais tarifas devem favorecer produtores da América Latina em detrimento de norte-americanos”.

Para o consultor Welber Barral, ex-secretário de Comércio Exterior do Brasil, caso as tarifas impostas pelos chineses afetem as exportações norte-americanas de soja, algumas empresas brasileiras podem ser pontualmente beneficiadas, já que a China não teria outro fornecedor alternativo senão o Brasil.

“Mas a vantagem para o Brasil seria apenas pontual e momentânea”, explica Barral, acrescentando que as empresas precisam estar certificadas para atender a esta eventual demanda e a China poderia ceder a qualquer momento nesta questão ou negociar com outros mercados.

Na visão de Ruschel, da Liberta Global, uma piora na guerra comercial entre EUA e China certamente impactaria o Brasil negativamente, apesar dos benefícios pontuais às exportações de grãos.

“Se a tensão de intensificar, pode haver uma diminuição da atividade econômica global e um fechamento dos países ao comércio internacional, o que teria impactos ruins para o Brasil, já fragilizado com uma recuperação ainda fraca de sua economia”, avalia.

Um terço da produção de soja americana é vendido para a China (US$ 14 bilhões no ano passado). Para o presidente da Aprosoja em Mato Grosso (Associação dos Produtores de Soja e Milho), Antonio Galvan, o Brasil não teria capacidade de substituir toda a demanda por soja da China caso as exportações dos EUA ficassem inviabilizadas. “É muito cedo para saber o que pode acontecer”.

Fonte: G1

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