Empresas menores de Santa Catarina se destacam em exportações
O problema não estaria na falta de pagamento do comprador argentino, mas nas medidas impostas a essas transações comerciais no Banco Central do país vizinho. A presidente da Câmara de Comércio Exterior da Federação das Indústrias de Santa Catarina (Fiesc), Maria Teresa Bustamante, explica que, se a Argentina declarar a moratória, precisará mais do que hoje de reservas para honrar seus compromissos.
— O importador argentino pode fazer o depósito da sua compra dentro do prazo. Mas, assim que o pagamento for depositado, o Banco Central do país pode definir que o dinheiro só será liberado dentro de 30, 60, 90 dias… A Argentina já fez isso com credores no auge da última crise, por volta de 2001 — afirma.
A carne suína é hoje o quinto produto catarinense mais vendido para a Argentina. O diretor executivo do Sindicato da Indústria de Carnes e Derivados de Santa Catarina (Sindicarne-SC), Ricardo Gouvêa, afirma que os empresários do Estado ainda não temem exportar para a Argentina e que só deixaram de vender para o país vizinho quando ele mesmo impôs empecilhos à entrada de produtos brasileiros.
Mas, caso a Argentina declare a moratória, as relações comerciais com Santa Catarina mudam de figura. Gouvêa explica que o empresário passará a encarar o país com descrença, temendo especialmente a interferência de medidas do Banco Central.
O possível calote poderá intimidar os empresários catarinenses na negociação com os argentinos, mas os empecilhos protecionistas do país vizinho já deram conta de abalar as relações comerciais entre Argentina e Santa Catarina. Em dois anos, as vendas do Estado para os hermanos caíram 28,6%. De terceiro destino das exportações catarinenses em 2012, a Argentina passou para sexto em 2014.
Os clientes argentinos já foram os primeiros da lista nas compras internacionais de artigos têxteis de Santa Catarina. Mas, como explica Ulrich Kuhn, presidente do Sindicato das Indústrias Têxteis de SC (Sintex), a preferência do país vizinho por produtos asiáticos somada ao aumento do custo de produção no Brasil afastaram os hermanos dos negócios com o Estado. Hoje, a Argentina representa menos de um terço das exportações do setor, que também diminuiu menos de 2% do total da produção.
O presidente do Sintex afirma que a indústria têxtil catarinense está focada no mercado interno e que por isso está preparada para enfrentar um eventual calote de um parceiro comercial — hoje bem menos importante — como a Argentina.